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Um relato da entrada do Ano 2000 no Céu do Mapiá

Recebemos este relato como contribuição de Isabela Lara (ilara@unb.br), moradora da Comunidade Céu do Planalto em Brasilia, que esteve presente na festa de passagem de ano no Céu do Mapiá. Enquanto aguardamos as novidades no formato oficial, que em breve estarão publicadas no site, ficamos sabendo um pouco do que se passou em nossa floresta na virada do milênio e durante o mês de janeiro.

Brasília, 2 de fevereiro de 2000

Em todo o planeta as pessoas se reuniram para saudar a entrada do ano 2000. Para nós do Santo Daime, o grande ponto de encontro foi o Céu do Mapiá, comunidade na floresta no coração da amazônia brasileira.

Em meio a beleza extasiante da floresta amazônica, centenas de visitantes de todas as partes do planeta se reuniram à comunidade local para celebrar não apenas a entrada de um novo milênio mas, principalmente, para saudar um novo tempo: o tempo da manifestação poderosa do espírito santo em cada ser.

Muito se fala do nascimento da nova era, a era de aquário, um novo tempo de mais harmonia e prosperidade para a humanidade. Quem teve a oportunidade de participar dos inúmeros festejos e atividades realizados no Céu do Mapiá pode testemunhar parte desse nascimento no seu próprio ser.

Aos vários trabalhos já programados para o festival somaram-se vários outros. Alguns já desenvolvidos ordinariamente pela comunidade - como os trabalhos de cura na Santa Casa local - e ainda outros realizados especialmente para o evento como: trabalhos de São Miguel, de jovens, hinários de membros da comunidade. Assim, além das orações que aconteciam diariamente na igreja, quase todos os dias era possível se participar de algum outro trabalho espiritual. Enfim, um estudo muito rico e fino cujos resultados hão de ser espalhados por todo o planeta na chama que acenderam no coração de seus participantes.

Também estiveram presentes às celebrações membros da igreja nativa norte-americana, cujo sacramento é o peiote, a qual realizou dois trabalhos celebrando, mais uma vez, a amizade entre as duas igrejas.

Apesar do grande número de visitantes, os hinários oficiais contaram com a participação de cerca de 800 pessoas, a igreja e comunidade mãe do Santo Daime foram capazes de absorver harmoniosamente centenas de pessoas das mais diversas culturas, falando pelo menos cinco línguas diferentes. Várias igrejas e pontos de socorro do Brasil e do mundo estavam ali representados. Eram japoneses, ingleses, holandeses, norte-americanos, tchecos, italianos, espanhóis, argentinos, chilenos, uruguaios, convivendo diariamente com os nativos e vários brasileiros do sul do país.

A igreja ficou lotada, como se tivesse sido construída para absorver exatamente aquele número de pessoas que ali estiveram presentes. A cozinha geral, por sua vez, foi capaz de alimentar a todos que lá chegaram após uma manhã de trabalho nos mutirões e feitios que aconteceram diariamente na comunidade. E, vale a pena lembrar, ela foi um exemplo vivo do espírito comunitário do Padrinho Sebastião Mota de Melo e uma celebração da consciência e da doação voluntária como alternativas viáveis de relacionamento entre as pessoas. O prato de comida da geral não tinha preço. Quem pudesse e quisesse fazia uma doação em alimento, trabalho ou dinheiro. Sem que ninguém cobrasse de quem chegava, na geral não faltaram nem comida nem mãos para ajudar na preparação das refeições.

Foram vários momentos memoráveis, inesquecíveis. Certamente um dos mais importantes para a comunidade foi o dia dos Santos Reis quando houve a entrega dos trabalhos espirituais.

Já há muitos anos não se fazia a entrega dos trabalhos no Céu do Mapiá e, para que a cerimônia fosse o mais perfeita possível, foram feitos vários ensaios que resultaram numa belo ritual no alvorecer do dia.

Um destaque especial deve ser feito ao trabalho desenvolvido pela Rádio Jagube. Já nas primeiras horas da manhã a vila do Céu do Mapiá é acordada com belas músicas espalhadas nas ondas do rádio e em alto-falantes instalados na igreja. Algumas vezes a rádio aproveitava a presença de um bom músico para que ele fizesse uma performance solo, outras vezes apresentava uma mensagem dos líderes da comunidade incentivando e orientado os trabalhos do dia.. Além disso, já há dois anos a rádio vem gravando e transmitindo ao vivo todos os trabalhos realizados na igreja da comunidade e criando programas educativos que tem transformado o cotidiano dos habitantes da vila.

Durante 10 dias em janeiro, as várias igrejas ali representadas se reuniram para conversar sobre os rumos institucionais da Igreja do Santo Daime e do Instituto de Desenvolvimento Ambiental (IDA), a organização não-governamental responsável pela sua manutenção. Um dos pontos mais importantes avaliados durante encontro foi o processo de padronização do sistema de associação de cada núcleo dentro do novo contexto administrativo da igreja do Santo Daime. Cada núcleo, igreja ou ponto de socorro terá 2 meses, contados a partir do final do encontro em meados de janeiro, para regularizar a sua participação jurídica na irmandade seguindo o modelo geral escolhido: separação da parte religiosa, a igreja, de seu órgão financiador, organização não-governamental de acordo com categorias pré-definidas e o tamanho de cada núcleo. Os dirigentes de cada igreja do Santo Daime que quiserem continuar a receber o sacramento e participar da organização religiosa e ecológica como um todo devem atualizar sua situação legal, o que deve ser feito junto a sede geral da irmandade no Céu do Mapiá.

Um outro ponto importante abordado no encontro foi a legalização do sacramento do Santo Daime no exterior. Várias ações foram propostas e, a partir da própria reestruturação administrativa dos núcleos, devem ser implantadas ações conjuntas das igrejas e pontos no exterior.

Com relação à organização do ritual foram apresentadas algumas modificações já aprovadas pelo conselho doutrinário que devem figurar, em breve, como uma errata às Normas de Rituais em vigor.

Mas nem só de flores e trabalhos espirituais vive o Céu do Mapiá. A comunidade enfrenta o desafio do crescimento, do desenvolvimento sustentável, do progresso inteligente. A busca de fontes viáveis e não-poluentes de energia, a necessidade de criação de atividades de geração de renda, a urgência da instalação de telefones que funcionem entre outros. O que fazer com o lixo descartável, as incontáveis latas de coca-cola tão apreciadas pelos moradores e visitantes, parece ser uma das questões mais importantes.

Cada visitante certamente trouxe uma vivência muito particular dos festejos ocorridos no Céu do Mapiá. No entanto, a maioria deles, tenho certeza, voltou com a vontade de voltar, de convidar aqueles irmãos que não tiveram a oportunidade de participar deste ano novo a irem ao Céu do Mapiá, a chegar mais perto daquela floresta abençoada e curadora.

Para que, a partir de uma vivência transformadora na atualidade do Céu do Mapiá, essa força bendita, esse espírito de liberdade, união e comunhão com os irmãos e a natureza possa ser revigorado em todos os centros daimistas do mundo.

Isabela Lara
Comunidade Céu do Planalto


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