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      Notícias sobre a Doutrina 
      Revista República 
      Janeiro 2000 - Ano 4 - Nº 39 
      Inquietude no coração da floresta 
      O embaixador da Razão OTAVIO FRIAS
      FILHO  
      vai à Terra Prometida do Santo Daime, no interior do Acre, experimenta a ayahuasca, viaja
      até a memória mais arcaica e as fantasias mais fulgurantes e narra nesta reportagem
      exclusiva a República como se formou a primeira religião tipicamente brasileira  
      "Vi
      também a cidade santa, a Nova Jerusalém,  
      que descia do céu da parte de Deus, ataviada  
      como noiva adornada para o seu esposo."  
      Apocalipse, 21:2 
      O rio Purus nasce nas encostas da cordilheira dos Andes
      para cruzar a fronteira entre o Peru e o Brasil naquele ponto em que, formando uma
      reentrância no mapa do Acre, o território do país vizinho mais avança em direção ao
      Estado do Amazonas, que o rio eventualmente atinge na altura da cidade de Manuel Urbano.
      Serpenteia então, já em solo amazonense, por uma vasta região inóspita, às vezes
      chamada de Vale da Malária, praticamente desabitada exceto pelos vilarejos que medram às
      suas margens, espaçados por cerca de um dia em viagem de canoa. Mais de mil quilômetros
      depois, num percurso sinuoso que pode tomar duas semanas em barco e no qual se atravessa
      todo o sudoeste do grande Estado, o Purus desemboca sem alarde no rio Amazonas, 200 km
      antes de Manaus. 
        
      Vista geral da  
      Vila do Mapiá: a geografia ideal para as terras ignotas da mente 
      Boca do Acre, erguida sobre
      uma ribanceira na confluência em que o Purus recebe as águas do rio Acre, é o último
      entreposto da civilização ocidental, que come a Amazônia pelas bordas e até hoje mal
      se incrustou ao longo de seus rios principais. É ali que se fazem as últimas compras,
      que se toma a última ducha quente e onde o freguês pode adquirir até uma motocicleta em
      concessionária credenciada, se desejar, embora ela não lhe possa ser útil dali em
      diante, quando o Purus mergulha, como o rio Congo de Joseph Conrad, em seu "coração
      das trevas". Acostumados aos bosques amenos de seus países de origem, muitos
      europeus e norte-americanos têm uma noção idílica da floresta tropical, desconhecendo
      quanto ela pode ser hostil à permanência humana. Nesse trecho, mesmo quando emoldurado
      pelo céu de safira sob um sol que inflama cada ponto da paisagem, o Purus tem algo de
      sombrio. Como se fossem obra de alguma devastação acarretada pelo homem, suas margens
      rasgam barrancos abruptos na mata, cujas bordas desabam sobre as águas terrosas, quase
      cinzentas, na forma de magníficos escombros vegetais que mais parecem fósseis. Atraídos
      pelas guelras dos peixes estripados, que os pescadores deixam nas praias, os urubus são a
      companhia ornitológica mais assídua.
        
      A preparação da ayahuasca sob uma bandeira
      do Brasil: 
      ecos de uma confissão nacionalista 
      Era a terceira vez que eu punha
      os pés no interior da Amazônia; tinha jurado, nas outras duas, nunca mais voltar, e
      agora me lembrava bem por quê.
      (Vale a pena ver íntegra da matéria de 20 páginas na
      revista República impressa, que contém fotos muito bonitas e um texto bem escrito,
      apesar de conter algumas imprecisões)  
        
     
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