Thaís Brianezi
                      Repórter da Agência Brasil
                    Escute também a matéria 
                      que foi veiculada na Hora do Brasil
                    
                      Manaus - Nos últimos dez anos, o 
                      que era um grande pasto de uma fazenda que fica dentro da 
                      Floresta Nacional do Mapiá-Inauini, no Amazonas, 
                      foi se transformando em floresta de novo. "A gente 
                      fez um reflorestamento demonstrativo e construiu uma fábrica 
                      de beneficiamento de banana em passa. Nossa banana era vendida 
                      até em Santa Catarina, conhecida no Brasil todo. 
                      Hoje a produção está parada porque 
                      os fornos de secagem estão sendo reformados", 
                      conta José Antônio Camilo, um dos 45 membros 
                      da Associação de Produtores Rurais da Boca 
                      do Igarapé do Mapiá e também agente 
                      de saúde da comunidade, em entrevista ao programa 
                      Ponto de Encontro da Rádio Nacional (Amazônia).
                    O projeto de reflorestamento teve o apoio Programa Piloto 
                      para a Proteção das Florestas Tropicais do 
                      Brasil, financiado com verba da cooperação 
                      internacional e coordenado pelo Ministério do Meio 
                      Ambiente.
                    Os produtores da banana-passa do Mapiá são 
                      seguidores da doutrina do Santo Daime. E as cerca de 150 
                      famílias que pertencem à comunidade vivem 
                      na floresta do Mapiá-Inauini. A origem da comunidade 
                      remonta a 1912, quando o maranhense Irineu Serra mudou-se 
                      para o Acre para trabalhar como soldado da borracha. Na 
                      fronteira com o Peru e a Bolívia, ele conheceu o 
                      chá preparado com o arbusto chacrona (a "rainha") 
                      e o cipó jagube, uma bebida alucinógena consumida 
                      por descendentes do Império Inca. Da mistura desse 
                      ritual indígena com o cristianismo nasceu a doutrina 
                      do Santo Daime, que tem como valores a "harmonia, amor, 
                      verdade e justiça".
                    
                    Em 1980, o padre Sebastião Mota Melo, seguidor do 
                      mestre Irineu no Acre, fundou em Boca do Acre, no Amazonas, 
                      a Colônia dos Cinco. Três anos depois, por orientação 
                      do Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
                      Agrária (Incra), já que a área ocupada 
                      era particular, o grupo de cerca de 300 pessoas se mudou 
                      para a região do igarapé do Mapiá.
                    O terreno ocupado pela comunidade se tornou em 1989 parte 
                      da floresta nacional que tem 311 mil hectares. E este ano, 
                      por meio de um convênio com o Ibama, o Incra reconheceu 
                      a reserva como projeto de assentamento e os moradores deverão 
                      receber créditos no valor de R$ 7.400 por família 
                      em março.
                    "A doutrina é a linha direta de toda a história. 
                      Se não houvesse doutrina, não haveria as pessoas 
                      juntas. Se não tivesse esse grupo de pessoas, não 
                      teria associação. E se não tivesse 
                      associação, a gente não teria ajuda 
                      governamental", argumentou Camilo, que se mudou para 
                      a região há 28 anos, atraído pelo Santo 
                      Daime.
                    Um dos objetivos do Programa Piloto para a Proteção 
                      das Florestas Tropicais do Brasil é promover o aprendizado 
                      sobre novos modelos de preservação, conservação 
                      e utilização racional dos recursos naturais 
                      da Amazônia e Mata Atlântica, buscando a melhoria 
                      da qualidade de vida da população local. Desde 
                      seu início, em 1995, o programa apoiou 194 projetos 
                      - um deles foi o do reflorestamento e a construção 
                      da fábrica de banana-passa na boca do igarapé 
                      do Mapiá, que teve valor de R$ 20 mil e foi executado 
                      entre 1995 e 1998.