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O Feitio

O feitio é o "Grande Trabalho da Doutrina", onde temos a oportunidade de fazer o Daime que vamos tomar. Fazer o Daime é também uma forma de fazer-se a sí próprio.

O Feitio dão Daime obedece rigorosas regras ritualísticas, com máximo respeito, silêncio devoção e esforço físico. Durante o feitio, as mulheres cuidam das folhas, enquanto os homens preparam o cipó.

Diz Alex Polari: "O dia do Feitio do Santo Daime, se constitui talvez no ritual mais importante e festivo da Irmandade, quando praticamente todos estão mobilizados para a realização da Bebida Sacramental que será consumida ritualmente por ocasião das festas do calendário, das concentrações e das curas." Para a realização do Feitio é necessário, portanto, uma grande união entre os membros da comunidade. Costuma-se dizer que, quando as enormes panelas vão para o fogo, todas as questões, todos os problemas estarão sendo cozinhados e apurados dentro delas, com vistas a serem transmutados e resolvidos.

O trabalho é praticamente ininterrupto para os homens encarregados da pesquisa e da coleta do material. Muitos dias são gastos andando pelo interior da mata para localizar os "reinados", jardins naturais onde florescem grandes quantidades do cipó ou da folha empregados na preparação da bebida. às vêzes a pesquisa se baseia em alguma informação concreta, de alguém que conhece os espécimes empregados. Ou a indicação é dada pela própria Natureza, no tipo de vegetação e de solo, ou na intuição dos mateiros. Sob o efeito do Daime e em harmonia com a floresta, acontece com frequência que esses homens sejam "conduzidos" até os cipós milenares e os grandes partidos de folha.

O Feitio é uma cerimônia carregada de grande simbolismo espiritual. É a maior prova e o testemunho mais eloquente da idoneidade cultural e da pureza ritual da Doutrina Santo Daime. É um rito que remonta às origens dos povos indígenas que ainda hoje habitam a Amazõnia Ocidental. É a produção de um Sacramento.

Sendo uma festa e um rito iniciático para a produção de um sacramento, exige-se de todos os participantes um grande adestramento físico, mental e espiritual. O Feitio corresponde inteiramente à categoria de um ritual de iniciação, onde os conhecimentos são ministrados de uma forma progresiva, de acordo com a entrega e a capacidade de assimilação de cada um. Nele, a busca da perfeição material conduz à realização da perfeição espiritual. A destreza, a inteligência, a memória e o domínio técnico sobre cada etapa do processo são capacidades essenciais em cada feitor.

São várias as fases do trabalho: localização, corte, transporte, lavagem, catação, raspação, bateção, cozimentos e apuração final do Santo Daime. Cada uma dessa etapas exige bastante familiaridade com determinadas técnicas que vão ajudando a aperfeiçoar a beleza e o rendimento do trabalho. E que, por sua vez, estão relacionadas com o desenvolvimento de certos dons, qualidades e atributos que precisam ser aprendidos com os mais experientes, para que se produza um Daime que traga muita força e luz, completando em nossa miração a transformação pessoal que iniciamos no Feitio. Cada Etapa do processo se complementa na subsequente, sendo as metas finais a harmonia e a perfeição do trabalho.

O feitio envolve várias etapas. Inicia-se com a expedição para pegar o material. Buscar o Jagube nas matas. Conta-se que as pessoas que localizam o Jagube, conseguem vê-lo pelo brilho. Ao chegar no primeiro Jagube, um despacho de Daime, é rezado um Pai Nosso - Ave Maria - Salve Rainha. Então os sobe-se pelo Jagube, até que, pelo peso, ele vai deslizando pelas árvores, até chegar no chão. Geralmente é cortado em pedaços iguais e ensacado. Às vezes vem em fechos. Alguns irmãos dizem que ele é cortado em pedaços iguais (+ou-120cm), para que as mirações sejam iguais.

As mulheres vão catar as folhas, e em seguida limpá-las na Igreja, com os dedos, tirando todas as impurezas de cada folha de Rainha. As folhas são lavadas e trazidas para a Casa do Feitio.  Tudo é feito tomando Daime e cantando hinos.

O cipó é raspado e limpo pelos homens na Casa do Feitio. Depois de limpo inicia-se a bateção.Existe um espaço com 12 tocos de madeira em duas filas de seis cada uma com um banco atrás, destinado à bateção. Os homens sentam-se munidos de marretas. Batem e ao mesmo tempo cantam hinos. O Jagube é batido até ficar macerado em fibras. Do outro lado da bateção está a bancada onde o Daime escorre, e a fornalha. As panelas são preparadas com camadas do cipó macerado intercalado com folhas e coloca-se água pura, filtrada .

Dessa primeira panela é extraido o que chamamos de cozimento (mistura da água, cipó, folha). Esse cozimento depois de tirado vai novamente para o fogo numa panela com mais folha e cipó e dessa panela temos o Daime de primeiro grau e assim por diante.Com gambitos (espécie de tridentes de madeira-vide na ilustração) os feitores remexem as camadas de cipó e folha para evitar que a pressão derrame nosso líquido precioso. Quando está no ponto, o feitor dá sinal para a panela ser retirada, e o Daime é escorrido por uma canaleta, até um recipiente,e em seguida será esfriado e acondicionado.

O feitio envolve ainda preparação do barro para ser colocado quando a panela vai ao fogo para não queimá-la dos lados, cortar lenha, cuidar do fogo, limpeza permanente do local, despacho de Daime, e por aí vai. Parece simples o processo, mas o segredo está na concentração, no conhecimento do feitor e de sua equipe, no ponto, no material,e no que o astral determina, para acontecer a magia alquímica de nosso sacramento.

O encerramento acontece com um trabalho na "Boca da Fornalha", onde as mulheres sobem na Casa do Feitio e juntamente com os homens trabalhando no feitio, cantam um hinário determinado pelo feitor.