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Germano Guilherme

Editado a partir do artigo de Rodrigo Borges Conti Tavares - http://www.afamiliajuramidam.org

comp-germano-1  Germano Guilherme é um dos pilares da Doutrina do Santo Daime. Era negro, de estatura mediana (aproximadamente 1.65m) e tinha os dentes muito alvos. Nasceu em 28 de maio de 1902, em São João do Piauí, no Estado Piauí e mudou-se ainda menino, com sua família para o Território do Acre passando a trabalhar nas colônias, como seringueiro e agricultor.

  Conheceu Raimundo Irineu Serra em 1928, quando ambos serviam na Guarda Territorial em rio Branco, se tornaram grandes amigos – entre si chamavam-se de “maninho”. Germano conheceu a bebida sagrada pelas mãos de Irineu. Nos dias de folga se embrenhavam na floresta para tomar a ayahuasca e devem ter vivido muitas aventuras juntos, o que reforçou a dedicação de Germano a seu mestre espiritual e amigo. Ele foi, portanto um dos primeiros seguidores de Irineu e acompanhou Mestre Irineu, tanto nos tempos em que moravam na Vila Ivonete, quanto na mudança para o Alto Santo.
 
Foi o precursor do uso de hinos como fio condutor da Doutrina do Santo Daime, uma vez que, em 1934, recebeu e cantou o primeiro hino de nossa história (o Mestre recebera um hino quando teve a visão de “Clara”, mas ainda não o havia apresentado). Por ordem do Mestre, seu hinário “Sois Baliza”, é cantado tradicionalmente, antes do hinário“O Cruzeiro”.
 
Divino Pai Eterno
O seu mundo veio e formou
O seu mundo veio e formou
E habitou
E habitou
Com toda criação
Com toda criação
Com vosso amor
Deixou e levou
E tão distante ficou
E tão distante ficou
Olhando a sua criação
Olhando a sua criação
Com o vosso brilho
Com o vosso brilho do amor.

   Em 1943 ele desposou Cecília, filha de Antônio Gomes e Da Maria de Nazaré, vinte e seis anos mais jovem. Ela tivera um filho quando ainda adolescente, de uma relação com José das Neves, que foi adotado pelo Mestre e sua esposa D. Raimunda. O menino ganhou o mesmo nome de um tio paterno do Mestre, Paulo d´Assunção Serra. 
O casal Germano e Cecília não gerou filhos.

  Depoimento de D. Cecília Gomes:
 
  “Assim era o padrinho Irineu. Para mim, ele era tudo, meu pai, meu Mestre, meu padrinho. Ele me criou, morei muitos anos na casa dele (...). Depois, me casei com o Germano, com a orientação dele. Eu tinha dezesseis anos e o Germano quarenta e dois. Mas o padrinho Irineu viu que aquele casamento ia ser bom para nós. Então, nós casamos (...), sempre seguindo a orientação dele.”
 
  Relatos de contemporâneos são unânimes em descrevê-lo como de uma pessoa zelosa, até mesmo rigorosa, companheira e muito firme em seu trabalho. Era conhecido pela sua retidão e firmeza. Nos trabalhos de Daime ele era respeitado por ser um excelente cantor e um maestro no uso do maracá, fazendo questão de marcar pessoalmente o compasso e a condução de seu hinário. Teófilo Maia comenta que cantar seus hinos era um acontecimento na comunidade. Conta-se que não gostava que seus hinos fossem fossem cantados fora da igreja ou dos trabalhos espirituais.
 
  Ilustrando seu caráter, conta-se uma história de que um dia estava Germano em sua casa quando um jovem passou e pediu a ele duas laranjas de uma laranjeira carregada, o que ele prontamente consentiu. Só que o jovem tirou várias laranjas e as colocou em um saco. Quando se retirava agradecendo, Germano o chamou de volta e disse: "Você me pediu duas, portanto derrame o saco e tire as duas que me pediu.” Assim foi feito e o rapaz foi saindo meio encabulado. Aí ele o chamou novamente e o rapaz, já com medo, ficou parado. Então, Germano falou: “Agora junte o resto e leve que eu estou lhe dando, e aprenda a pedir para poder receber.” Por essas e outras, ganhou o apelido de “buraco”. Este fato foi contado pelo Sr. Paulo Serra, que vivia com ele e a mãe, D. Cecília, e foi testemunha ocular.
 
Guilherme Germano tinha uma ferida na perna, que não sarava, ao contrário, foi piorando com tempo, à ponto de, no final da vida, deixá-lo de cadeira de rodas. Ele creditava esse sofrimento à uma outra encarnação, em que fora um cruel senhor de escravos – dizia que era uma sentença.
 
Germano Guilherme foi o último dos quatro Companheiros a fazer a passagem, em 1964. Tinha 62 anos.