Site do Centro de Documentação e Memória - ICEFLU - Patrono Sebastião Mota de Melo

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Padrinho Wilson Carneiro da Silva

Fonte: Eduardo Bayer

Pad._Wilson_e_Mestre  Wilson Carneiro de Souza nasceu nos sertões do então Território Federal do Acre, nas proximidades do Rio Tarauacá, em 18 de julho de 1920. Os pais, Antônio e Antônia, eram cearenses oriundos da localidade de Riacho do Sangue, e faleceram quando Wilson e seu único irmão Nelson eram apenas duas crianças, motivo pelo qual os meninos tiveram que desde cedo trabalhar pela própria sobrevivência, pois não possuíam nenhum outro parente que os pudesse amparar. Assim, foi no trabalho infantil que se tornaram seringueiros, e dessa época de dificuldades contavam que na região do Rio Gregório haviam ido cortar seringa junto de uma tribo de índios, logo vitimada pelo sarampo e cujos remanescentes fugiram para longe do contato com o homem branco, a qual tinha a peculiaridade dos mais velhos jamais deixarem seu rosto à mostra e só os jovens menos arredios revelarem possuir cabelos loiros e olhos azuis, num dos tantos mistérios da Amazônia...

Da juventude, Wilson Carneiro recordava sempre o asseio e o capricho que tinha com suas coisas, dizendo que apesar da vida sofrida de seringueiro sempre gostou de apresentar-se impecável para as circunstâncias de festa, com um bom traje e um bom perfume. Sua paixão de adolescente teria sido uma certa Violeta, mas veio a se casar foi com uma bela cabocla, Zilda Teixeira, não antes de mostrar seu valor trabalhando pesado para o pai desta na derrubada de árvores para a abertura de roçados na mata, o que era comum nos noivados do sertão. O casamento foi a base para Wilson se desenvolver na vida, deixando a seringa para trabalhar como "magarefe", ou seja, comprando animais de corte (bois e porcos) nas colocações e abatendo-os para vender a carne na cidade de Tarauacá, e depois na capital, Rio Branco, para onde se mudaram na década de 50. 
O casal criou cinco filhos: José Ribamar, Terezinha, Francisco das Chagas, Raimundo Nonato e Gecila. Em Rio Branco, graças ao extremado senso prático e o tino de negociante, Wilson Carneiro usou as economias de anos de trabalho pesado para se estabelecer como próspero comerciante no bairro do Aviário, onde seu estabelecimento chamou-se "Ponto Chic". Entretanto, em 1961, seu filho mais velho adoeceu gravemente, levando a família ao desespero, pois nem a medicina nem pretensos curadores espirituais davam conta de curá-lo. Foi assim, depois de muitas tentativas infrutíferas, que Wilson ouviu do Coronel Holderness Maia, militar que conhecia o Mestre Raimundo Irineu Serra desde os tempos da Guarda Territorial do Acre, o conselho de buscar socorro no trabalho espiritual do Daime.

Wilson Carneiro já havia muitas vezes cruzado pela Estrada da Colônia Custódio Freire, onde ficava o Alto Santo e a casa do Mestre Irineu, tangendo varas de porcos que comerciava por ali, e chegara a negociar suínos da própria criação de Irineu Serra. Nunca, entretanto, tomara conhecimento da Doutrina fundada e cultivada por este, e foi apenas em 1962 que chegou ao Centro de Irradiação Mental Luz Divina, trazendo consigo o filho José para ser curado. O que parecia impossível se realizou então: o filho obteve a cura, e Wilson e Zilda, agradecidos, aos poucos ingressariam para as fileiras dos fardados da Rainha da Floresta, trazendo consigo os filhos.

Em 1965, Wilson Carneiro estava presente quando chegou à Doutrina, também pela busca de cura, o amazonense Sebastião Mota de Melo. Ambos mediavam os quarenta e cinco anos de idade nessa época, e logo se tornaram muito amigos, amizade esta que se estendeu às famílias. Sebastião Mota era carismático, vibrante, e Wilson Carneiro muito se agradava de conversar sobre a religiosidade e sobre a vida em geral com ele e desde cedo confiou em sua visão espiritual. Mestre Irineu, já septuagenário, os orientou nesse ínterim: a Sebastião, capacitando-o para ser feitor de Daime na colônia Cinco Mil onde este morava (muitos vizinhos e companheiros de labuta deste o acompanharam desde cedo nos trabalhos do Centro do Alto Santo), e a Wilson, entregando-lhe a função de despachar no Correio Aéreo Nacional o Daime que era enviado pelo Centro para os trabalhos espíritas do Senhor Regino, gerente de um hotel no centro de Porto Velho, em Rondônia, função esta que acompanhou a incumbência de ter Daime em sua residência para poder atender qualquer membro da irmandade necessitado de um pronto-socorro na cidade de Rio Branco, já que o acesso ao Alto Santo era dificultoso e muitas vezes impraticável naquela época.

Para os trabalhos de cura, Wilson Carneiro chamava a senhora Clícia Cavalcante, esposa de um proeminente advogado da cidade e fardada na Doutrina há mais tempo que ele, para prestar o atendimento aos doentes cantando o hinário por ele preferido, que era o de Maria Damião. Ao saber disso, Dona Percília, chefe do ritual no Centro, corrigiu-o dizendo ser necessário que este começasse sempre pelos hinos do Mestre Irineu, pois este era o tronco da Doutrina, e ser sempre preciso principiar a "subida" pelo tronco e não pelas ramas. Assim, Wilson Carneiro começou a formar um caderno de hinos para seus trabalhos de cura, caderno este que hoje conhecemos como da "Linha de Arrochim" recordando que, quando de seus aniversários, o hinário cantado em sua residência era o de Raimundo Gomes, o qual ali comparecia com sua família todos os anos para esse serviço espiritual, e onde Arrochim era citado mais de uma vez como espírito curador "que vem como um beija-flor". Sebastião Mota, sempre convidado para esse festejo, relembraria depois em seu próprio hinário a força desse beija-flor da cura.  
Em julho de 1971, o Mestre Irineu Serra veio a falecer, deixando a seus seguidores o sentimento de uma missão a cumprir na continuidade de seus trabalhos espirituais. Não houve, entretanto, entendimento entre os seguidores que viam na obediência ao estatuto tardiamente criado do Centro uma séria restrição quanto à administração do funcionamento de outros locais de trabalho ritual, pois mesmo o grupo de seguidores de Porto Velho ganhara um estatuto próprio por haver recomendado do Mestre que seu Centro não mantivesse nenhuma filial.

Em 1974, a diretoria do Centro buscou obrigar Sebastião Mota a entregar todo o Daime que produzisse na Colônia Cinco Mil para a sede do Alto Santo, suspendendo com isso a possibilidade de que ele pudesse realizar  por sua própria conta serviços espirituais com a bebida. Wilson Carneiro pôs-se ao lado de seu melhor amigo, e retiraram-se com as respectivas famílias das fileiras do Centro. Muitos outros fardados, inclusive familiares do Mestre, discordaram da posição da diretoria representada maiormente pelo grupo da família Gomes, e ajudaram a criar na Colônia Cinco Mil uma nova igreja, a qual batizaram como Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra e cuja data de fundação foi então declarada como sendo a 6 de outubro de 1969, quando de um hinário em homenagem ao aniversário de Sebastião Mota (o primeiro serviço bailado autorizado pelo Mestre Irineu a ser realizado naquela localidade de sua residência).

"Nela existe uma igreja que o Mestre me dizia", era o que cantava um dos primeiros hinos de Sebastião Mota, e a igreja foi erguida na Colônia Cinco Mil para ser inaugurada no festejo de São João Batista de 1975. Um dos hinos de Maria Damião muitas décadas antes já declarava: "Olhem para a casa, a casa de São João", e a interpretação doutrinária que guiou a constituição do novo Centro foi justamente que Sebastião Mota era o sucessor da liderança do Mestre Irineu por ser nessa vida para ele o mesmo que outrora João Batista foi para seu primo Jesus Cristo, só que em vez de ser seu precursor agora o sucederia. Essa interpretação, mitologêmica, tinha como origem sem dúvida a cultura religiosa messiânica da tradição nordestina formadora dessas famílias de seguidores de Irineu Serra, que pré-existia quando da chegada de Wilson Carneiro e Sebastião Mota à Doutrina. Como o Mestre Irineu jamais ratificou mas tampouco condenou publicamente essas referidas interpretações da Doutrina contida nos hinários, havia nessa época um grupo de seguidores que entendia Raimundo Gomes (cujo aniversário era 24 de junho, data do festejo de São João) como a reencarnação do Batista, e outro, respaldado na potência dos trabalhos espirituais de Sebastião Mota, que assim melhor o considerava ser ele o santo pastor e profeta. Wilson Carneiro relatava como discutia-se então a esse respeito, e que concluíra um debate com um fardado da antiga sede dizendo: 

"Fica então você com o seu São João que eu fico com o meu".

As diferenças surgidas nos serviços rituais entre ambas correntes de seguidores de Irineu Serra foram aos poucos aprofundando-se a partir de então. Mestre Irineu, chamado carinhosamente de Padrinho por seus discípulos, trabalhara mais de meio século com a bebida do Daime pedindo pela unidade ritual e aconselhando a união da irmandade. Separado o grupo de Sebastião Mota do antigo Centro, este passou a ser chamado Padrinho Sebastião, e as lideranças sob o seu comando aos poucos também foram assim nomeadas, de modo que Wilson Carneiro, chefe dos trabalhos de cura, também se tornou o "Padrinho Wilson". Era o tempo da chegada no Acre de novas pessoas, de formação distinta àquela dos primeiros seguidores mas que procuravam valorizar o Daime como cultura tradicional da Amazônia. Com a presença destes fortaleceu-se o entendimento de que cabia ao novo Centro encaminhar a expansão da Doutrina para o restante do país, em especial os grandes centros urbanos, e interpretou-se o termo "esplandir", neologismo também oriundo do hinário de Raimundo Gomes e que fazia parte do hinário de Sebastião Mota, como sendo a instrução para expandir o trabalho de caridade fundamentado no ritual religioso do Daime. "Doutrinar o mundo inteiro sem a nada eu temer", instrução do hinário do Mestre Irineu, passou a ser um lema vivenciado na prática pelos próceres do novo Centro, que a partir disso enfrentariam todos os desafios.

Padrinho Sebastião pediu então que ele deixasse de ser comerciante e entrasse de uma vez para a vida comunitária mudando-se da cidade para a Colônia Cinco Mil, ocasião em que lhe entregou uma boa partida de terra para que este ali obtivesse o sustento de seus filhos e netos. Nessa ocasião o Padrinho Wilson e sua esposa, a Madrinha Zilda, que já tinham uma filha adotiva, Tânia Maria, trouxeram de uma viagem ao Santuário do Canindé, no Ceará, um neto para criar: George Washington, filho do "Chaga", que há algum tempo se mudara do Acre para o Pará e tinha lá sua família. Com Tânia e Washington, o casal já quase sexagenário passou a viver da pecuária junto da Cinco Mil, e foi em sua residência que o Padrinho Sebastião apresentou pela primeira vez seu hino "Símbolo da Verdade", dedicando-o ao matrimônio.

Padrinho Sebastião começou a formalizar o desejo de levar seus seguidores para longe da cidade, a fim de construir um novo tempo de convivência comunitária tendo a floresta como ganha-pão. Daí começou a transferência das famílias, primeiramente para o Seringal Rio do Ouro e depois para o Rio Purus, onde seria criada a Vila Céu do Mapiá em 1983, enquanto que a igreja da Colônia Cinco Mil era entregue para o Padrinho Wilson passar a exercer a função de comandante. Ele assim explicou como se deu essa transição:

Quando foi a 15 de fevereiro de 1981 eu cheguei [para morar] na Cinco Mil. Aí eu fiquei lá na casa de um fazendeiro, na casa do meu genro. Fiquei, e quando foi no fim de junho ele me chamou para tomar conta da igreja. Eu disse:Padrinho, eu não quero ficar de diretor da igreja, eu não tenho capacidade disso. "Mas é o senhor o escolhido, o senhor não tem pra onde correr". Padrinho, mas eu reconheço de mim que não tenho capacidade de dirigir um centro espírita. "Aprende como eu aprendi, mas não tem pra onde correr: o escolhido é o senhor". Aí eu fui com o Alfredo, que é o comandante geral da Doutrina, e disse: Alfredo, o Padrinho quer que eu fique como dirigente da igreja, eu conheço de mim que não tenho capacidade de dirigir um centro espírita. "Padrinho, mas é o senhor o escolhido, não adianta correr que o escolhido é o senhor. Olha, papai pegou no timão, eu peguei, agora é o senhor". (...) Aí nisso quando eles me entregaram a chave da igreja, o Alfredo me entregou um hino que fala "Agora tu recebes esta chave de ouro". Foi o hino que me entregaram quando entregaram a chave da igreja. Mas que a minha missão mesmo é cuidar dos doentes, essa foi a missão que o Mestre me deixou. Eu vivo dirigindo a igreja mas a minha missão mesmo é cuidar dos doentes...

O CEFLURIS, Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra, foi re-fundado no Estado do Amazonas tendo como sede nacional a igreja do Céu do Mapiá. Em 1988, atendendo à necessidade de registro da instituição religiosa, criou-se na Cinco Mil o CEFLUWCS, Centro Eclético da Fluente Luz Universal Wilson Carneiro de Souza. Padrinho Wilson havia enviuvado dois anos antes, e começava a sentir o peso da idade, pois tinha um problema pulmonar crônico além da diabetes. Preferiu ficar como presidente honorário e começar a fazer como seu sucessor o filho mais novo, Raimundo Nonato, que se tornara feitor de Daime e tinha um hinário próprio para cultivar no comando do Centro. Padrinho Wilson viajou várias vezes em excursão pelas filiais do CEFLURIS no sudeste e sul do país, sempre acompanhado por seu neto Washington, exímio guitarrista e cantor, e assim continuou preservando o legado do Padrinho Sebastião depois do falecimento deste no final daquela década. Além de amigos, ambos Padrinhos se uniram em sua posteridade, pois Gecila, a filha caçula de Wilson Carneiro acabou se casando com José, filho de Sebastião Mota, gerando três filhos que bem representam o amálgama dessas linhagens de seguidores do Mestre Irineu para as gerações vindouras.

Wilson Carneiro, que gostava de se dizer um "carneirinho do Mestre", jogando com as palavras para se referir tanto a sua lealdade aos pastores que escolheu como com o termo "carneiro", usado tradicionalmente para nomear as garrafas de cinco litros de vinho que eram reutilizadas para guardar o Daime, despediu-se desse mundo em Rio Branco, a 26 de junho de 1998, aos setenta e sete anos de idade. Através de seu exemplo de fé buscou apresentar aos que lhe conheciam o valor tanto da conciliação e do entendimento quanto da observância das tradições rituais legadas por Irineu Serra, evitando assim tanto as atitudes de desavença nos serviços religiosos quanto as de desconfiguração do trabalho por desinteresse do aprendizado. Pedia sempre muito capricho como sabia que o Mestre queria que todos seus seguidores caprichassem na apresentação de seus trabalhos, e demonstrava sempre em suas narrativas que foram as contingências da vida que o haviam ensinado a ser "manso e cordeiro". De um Daime que recebera das mãos do Mestre Irineu para tomar com sua família, guardava como relíquia uma pequena garrafa, que vemos na foto que ilustra este artigo, cujo conteúdo pretendia tomar no seu leito de morte, pois, dizia, o Daime era a sua vida. Havendo falecido em um hospital, sob tratamento alopata, não pode beber dessa sua relíquia, mas seguramente recebeu em tal momento o mesmo alívio espiritual que tantas vezes proporcionou aos demais nos trabalhos de cura que dirigiu, e muitos são os casos de cura que poderiam ser aqui relatados e foram proporcionados pelo Daime nessas sessões.

Muitas são também as lembranças felizes desse Padrinho que poderíamos narrar, e aqueles que o conheceram certamente as relembrarão aos próximos. Esta homenagem de agora entretanto vamos concluir com uma narrativa que o Padrinho Wilson fazia, com um gostinho de eternidade, de uma noite estrelada na Colônia Cinco Mil onde apenas ele e o Padrinho Sebastião ficaram contemplando e admirando a igreja por eles recém-construída, pairando branca como uma barquinha no alto mar da galáxia, e o amigo lhe declarou: "Assim como até hoje contam a história da Bíblia, daquele povo de antigamente, de Noé e sua arca, dos profetas, um dia também vão contar a história dessa igreja, desse povo do Mestre e dessa santa bebida". Certamente isso nos remete àquele lema esotérico, plasmado na placa pintada e colocada então sobre a porteira de entrada da Cinco Mil, HEI DE VENCER, que continuou e continuará ecoando, na casa de Wilson Carneiro e em todo lugar. Viva o Santo Cruzeiro!...

"É beija, é beija-flor Que minha mãe me entregou Para afastar as doenças De quem for merecedor

Meu Mestre está comigo Pois ele é meu Amor É no céu e na terra Jesus Cristo Salvador

Oh, meu Juramidam Foi ele quem me mandou Para relembrar lembranças Da salvação do amor

Meu Mestre está comigo Mesmo aqui aonde estou É a Glória do meu Pai Jesus Cristo Redentor

Eu digo tá, eu digo tá Eu digo tá e aqui estou Eu não me esqueço e só me lembro Do meu Mestre ensinador.

(hino 63 de Sebastião Mota de Melo)

 

Depoimentos sobre P. Wilson

Anexo 1 - Do site www.mestreirineu.org

Conheci o Mestre, fui criação dele, mas não dei valor à Doutrina. Aí, quando em julho de 1954, eu adoeci, sofri oito anos, fui desenganado pela medicina. Todos os médicos me desenganaram. Brasileiro, colombiano, japonês. Me disseram: "Vai no Mestre Irineu". Eu tossia muito, estava intoxicado de tantos remédios que estava tomando. Meu filho mais velho adoeceu também. Com dois meses de doença ficou prostrado e não teve nenhum médico de Rio Branco que desse jeito. Quando eu não tinha mais dinheiro, entrei nas macumbas. Insistiram muito para eu ir na casa do Mestre e levar meu filho. Assim no dia 23.07.1962, tomei Daime pela primeira vez. Não me curei, porque eu era muito cheio de maldade, mas meu filho curou-se.

No segundo Daime que eu tomei, fui operado espiritualmente. Vi quando me operaram, assisti tudo. Passei vinte anos sem sentir nada. Então adoeci do estômago. Tudo que eu comia, me fazia mal. Chegou um ponto que meu intestino parou de funcionar. Adoeci em 1979, e vim a me curar em abril de 1982. Foi um serviço tão bem feito, que parece que tiraram o intestino velho e botaram um novo. Já se passaram dez anos e ele continua a funcionar normalmente.

Quando eu estava com quatro anos de serviço, o Mestre me depositou o pronto-socorro. Muitos se curaram. Aquele velhinho se curou da congestão; a Glória recebeu três operações espirituais; a Cristina, uma argentina, curou-se de câncer. Minha missão é essa. Quando o Mestre me entregou, ele disse: a quem procurar não negue.

Antes de tomar Daime, eu fiz amizade com o Mestre Irineu. Sempre eu ia até lá para visitá-lo e a gente conversava muito. Quando eu passei a tomar o Daime e tinha algum tempo de serviço ele me disse:

- Seu Wilson, eu vou lhe dar um Daime especial.

No dia do aniversário do seu Leôncio, eu tomei. Era um Daime muito forte. Esse Daime tinha muita luz, muita cura e muito amor. E disciplina... Quando foi no outro dia de manhã , ele disse:

- Wilson, o senhor não vai para casa. O senhor vai tomar café e almoçar comigo.

Quando eu terminei o café, fiquei lá fora com ele.

- Que tal, meu filho, o Daime?

- Bom. O Daime tem muita saúde. O Daime tem tudo de bom.

- Finalmente o senhor está acreditando.

Então eu guardei esse dia. Fez 25 anos, no dia 10 de fevereiro. O Mestre, naquele dia, me deu um Daime muito especial. Esse Daime tinha uma finalidade. Então eu passei a pedir a Deus para me mostrar o dia de eu desencarnar, para tomar o Daime. Um dia eu sonhei que tinha que tomar aquele Daime de duas doses. Tomar a primeira dose, depois a segunda e viajar.

Eu fui bem tratado pelo Mestre. Um dia, eu perguntei a ele:

- Mestre, eu queria saber que merecimento eu tenho, porque quando eu viajo, eu não levo nem rede, nem roupa e nem rancho e eu nunca dormi no chão e nunca passei fome.

- Você acredita na lei cármica?

- Acredito sim.

- É porque na vida anterior você soube fazer o seu terreno e nunca negou uma dormida, nunca negou uma comida. Então você já está recebendo. Meu filho, o terreno a gente prepara é em vida, não pense que é depois que morre não. Assim você já está colhendo.

Eu sempre visitava o Mestre, fora os trabalhos. Quando eu peguei amor por ele, eu ia lá e levava uma sacolinha. Eu levava almoço, e almoçava com ele. Na mesa, Mestre Irineu não dava uma palavra.

Eu não alcancei ele bailando, mas alcancei ele dançando. São Pedro era festa dançante. Aniversário dele tinha também festa dançante.

Um dia, eu disse a ele:

- Mestre, eu tenho tanto que fazer... É obrigado a vir em todos os trabalhos?

- Não senhor. Eu exijo dos oficiais que venham nos trabalhos oficiais.

- E quais são os trabalhos oficiais?

- Da Família Sagrada: São José, São João - que era primo de Jesus, Nossa Senhora da Conceição, a data de nascimento de Jesus Cristo; os Santos Reis; Semana Santa; Finados; e o aniversário do presidente – o sr. Leôncio.

- O senhor falou de todos os trabalhos oficiais, mas não falou do aniversário do seu nascimento.

- Desse dia eu não sei de nada, fico bem pequenininho...

Aí me veio a compreensão que o aniversário dele, não era ele que fazia. Eram os discípulos.

Perto da passagem do Mestre, ele recebeu um hino avisando. A primeira crise que ele teve, eu estava lá. Nesse tempo eu estava fraco, com medo do Daime que fazia dó. E o Mestre me disse:

- No ponto que o senhor está, muitos correm. O senhor diminua o seu Daime, para não correr. Seu Daime deve ser bem pouquinho, só para fechar o corpo. E não se preocupe, que quem vai devagar também chega.

Depois disso, veio o hino que fala: "Me mandaram eu voltar / Eu estou firme vou trabalhar". Ele ficou contente. Pouco depois veio o "Pisei na terra fria". Ele convocou uma reunião e esclareceu:

- Esse hino não é só para mim. É para todo mundo. Todo mundo que nasceu, tem que morrer.

Assim, ele conformou o povo.